Sobre Mim

Quem sou eu? Minha jornada de traumas sexuais.

Com 35 anos eu já havia sido agredida e estuprada mais do que uma vez. Minha memória começa aos 5 anos, sofrendo rejeição na creche, por usar um pesado e feio óculos -fundo de garrafa- como os óculos com lentes grossas devido o grau alto eram chamavam naquela época. Eu acabei sendo rejeitada e me isolando dos colegas, afinal, meu comportamento era muito estranho e diferente dos demais, eu não era tida como uma criança “normal”. A criança que fui não sabia o motivo disso, mas, sentia a indiferença, o desprezo e tentava assimilar as palavras ruins que ouvia diariamente, embora não fosse querida pelos colegas e não tivesse amigos na escola, tudo seguia em um ritmo estranhamente calmo até que no meu oitavo ano escolar eu me apaixonei por uma garota da minha classe. Lembro que fingíamos brigar na escola, para nas tardes de quarta feira, nos encontrarmos na sua casa e “estudarmos” para as aulas de artes. Se tivesse acontecido nos dias atuais, eu descreveria como aulas breves de anatomia humana. Ainda lembro seu nome e já a encontrei depois de adulta e ela disse não se lembrar de nosso breve namoro e as brincadeiras semi sexuais que fizemos por mais de um ano. Talvez tenha sido esse o começo do fim.

Antes de continuar, preciso escrever que fui criada pela minha avó e seu segundo marido, e logo me acostumei a chamá-los de pais, e os chamo assim até hoje, e minha avó frequenta há muitos anos a igreja evangélica. Por esse motivo, fui criada indo para a igreja, mesmo, não sentindo nada e não tendo a mesma fé que os demais, não fazia sentido para mim, mas, era um ambiente onde eu era melhor aceita, em comparação com a escola, então eu ia para socializar. E eu fui uma adolescente bem presente na igreja, nos cultos e principalmente nos eventos como os acampamentos que aconteciam durante os dias de carnaval. Foi justamente em um desses carnavais que fui expulsa pelo coordenador de jovens, por ele ter tido a ‘revelação espiritual” sobre minha homossexualidade, ainda pouco explorado por mim. Segundo ele, eu estava cometendo um pecado por estar com uma doença, e eu, aos 16 anos, estava disposta a me curar, pois, o céu parecia um lugar bom e o esforço valeria a pena, para eu conseguir entrar lá.

Uma mulher da igreja disse que me ajudaria a encontrar a cura. A doença? Eu sentia vontade de beijar meninas. O tratamento iniciou e depois de um ano, orando, lendo livros como “No altar da idolatria sexual”, tentando sentir atração por meninos, o tratamento teve fim. Porque eu estava curada? Não. O motivo foi que o marido dessa mulher, tentou me curar, forçando seu corpo dentro do meu. Meu grito não saiu da garganta, minhas pernas não reagiram imediatamente, então somente após sofrer calada, eu corri para casa. Muda, calada e com medo. Contei para a avó, que nada fez, pior, afirmou que eu, aos 16 anos, havia sido culpada de seduzir e levar ao pecado um homem casado.

Minha vida teve que seguir, com traumas e dores ignorados, e a situação que já era difícil, se tornou pior com o surgimento de diagnósticos psicológicos que fizeram minha família mudar o olhar que tinham sobre mim. Além de todo preconceito por eu de fato ter assumido a homossexualidade, ainda havia preconceito psicológico pelos traumas desenvolvidos. Depressão, ansiedade, síndrome de pânico, medo de sair de casa, a dor era cruel e real. E isso apagou o brilho que eu tinha antes e me afastou de Deus. Até retornar na igreja, em outra agora, onde conheci um rapaz, cantor e caseiro daquele templo. Que não honrou o meu corpo de mulher, que naquela época, já maior de idade, e não sendo mais virgem, mesmo assim, sangrou. E novamente chorei em silêncio. Arrasada, Entristecida e tomada por uma dor enorme. 

E mesmo tendo passado por situações tão difíceis eu ainda consegui me apaixonar por uma mulher 12 anos mais velha, que conheci no meu aniversário de 22 anos, em um bate papo da uol. (Sou velha meus queridos, sou dessa época) E não foi um relacionamento saudável, foi uma relação de dominação e submissão com abusos emocionais, físicos e sexuais. Que incluíram dois estupros por um mesmo homem que ela tinha amizade. No primeiro deles, novamente meu corpo foi invadido e meus desejos invalidados, e eu, que estava imaginando que ter me descoberto e me assumido homossexual me tiraria da rota do abusadores, me decepcionei com a vida novamente quando isso aconteceu.

Um acordo mal feito, perversidade humana e sadismo vindo desta namorada, fez com que meu corpo fosse novamente invadido, silenciado, e mesmo que agora, aos 24 anos eu gritasse e implorasse, não tive ajuda e nem fim ao meu sofrimento. Dessa vez, uma lesão física me foi imposta, pois, além da violência ao meu corpo íntimo, ainda feriram minha cabeça e meu ouvido, que levou a uma ruptura de tímpano, e muitos ferimentos ao meu corpo jovem. E no segundo, a namorada, agora esposa, que infligia dor física ao meu corpo, e maltratava minha mente, chegando a forçar prostituição, empréstimos e submissão cega, num rompante de raiva fez acontecer uma nova violência sexual, usada como desculpa para punir um mal comportamento na ceia de natal. E o natal para Mim nunca mais teve o mesmo significado.

Pelo menos era o que eu pensava até conhecer Carina e junto com ela descobrir o verdadeiro significado da palavra amor, além de juntas descobrirmos e começarmos o tratamento para o diagnóstico que me faria entender meus comportamentos que me tornaram diferente e vulnerável desde a infância. Mas, esta é uma história para outra postagem.

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